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Povo de Deus, este Blog tem a intencão de divulgar a devoção a Nossa Senhora da Rosa Mística. Que Maria abençoe a todos com suas graças e muitos dons para podermos evangelizar e colocar no caminho da salvação nossos irmãos queridos.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A SANTA ESCRAVIDÃO DO AMOR

A Santa Escravidão de Amor PDF Imprimir E-mail
Por Pe. Rodrigo Maria   
A Santa Escravidão a Jesus por Maria é uma prática de devoção antiquíssima, remontando aos primeiros séculos da Igreja. Com o passar dos séculos, experimentou uma admirável evolução, no sentido que cada vez melhor se compreendeu o que esta prática significava no contexto da fé. Passando pela escola francesa do século XVII do cardeal de Bérulle, Boudon, Olier, Condrem, São João Eudes, etc. Foi em São Luís Grignion de Montfort que a doutrina e a prática da Santa Escravidão encontrou sua expressão mais perfeita, sendo também, por meio deste grande apóstolo de Maria, que esta prática devocional tornou-se popular. A doutrina e espiritualidade da Santa Escravidão de Amor foram imortalizadas por São Luís Grignion, no célebre escrito: “O Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”. Tal livro demonstra com muita sabedoria, clareza e unção quem é a Santíssima Virgem, qual é o seu papel na vida da Igreja e de cada pessoa em particular, com efeito o livro mostra a missão materna que Deus confiou a Santíssima Virgem, as razões e a maneira como Deus sujeitou a ela todos os corações, bem como, o papel da Santíssima Virgem no estabelecimento do reinado de Cristo e sua união íntima com o segundo advento de seu filho. O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem foi escrito por São Luís Grignion de Montfort em 1712, e devido à grande força que esse escrito tem para levar as pessoas à verdadeira santidade foi fortemente combatido pelo inimigo infernal. O demônio quis verdadeiramente destruí-lo, mas Deus não permitiu, contudo, o inimigo escondeu este tratado durante cento e trinta anos. Tudo isso foi admiravelmente predito e escrito por São Luís, no próprio Tratado da Verdadeira Devoção onde narra: “Vejo animais frementes que se precipitam furiosos para destruir com seus dentes diabólicos este pequeno manuscrito e aquele de quem o Espírito Santo se serviu para compô-lo, ou ao menos para fazê-lo ficar escondido no silêncio de um baú a fim de que não apareça” (T.V.D. 112).
Assim, este livro escrito em 1712, desapareceu sendo reencontrado apenas em 1842 em um baú de livros velhos. Publicado em 1843 tornou-se leitura obrigatória de toda alma piedosa que buscasse a santidade. De fato, São Luís predisse o desaparecimento do livro, também, como o seu reaparecimento e o seu sucesso (c.f. T.V.D. 112), de modo que, depois que foi publicado o tratado, a Santa Escravidão tornou-se a via espiritual de muitos santos, que se fizeram escravos de Maria Santíssima, e na escola de seu Imaculado Coração aprenderam a amar a Deus e fazer sua santa vontade. Santos como: São João Maria Vianney, São João Bosco, São Domingos Sávio, Santa Terezinha, Santa Gema Galgani, São Pio X, São Pio de Pietrelcina e tantos outros santos e santas do nosso tempo, viram, na total consagração a Santíssima Virgem não uma “devoção qualquer” ou “mais uma devoção” mas uma Devoção Perfeita, aquela devoção querida por Jesus ao fazer de cada um de nós filhos de sua Mãe Santíssima.
Um dos maiores apóstolos desta consagração foi nosso querido Papa João Paulo II, que se fez escravo por amor quando ainda era seminarista. E de tal forma esta total consagração ordenou sua vida e missão que adquiriu como seu lema pessoal o “Totus Tuus Mariae”. João Paulo II foi um testemunho vivo da eficácia desta consagração na vida de uma pessoa.

1- O que é a Santa Escravidão de amor?
A total consagração a Nossa Senhora, ou a santa escravidão de amor é a entrega de tudo que somos e possuímos à Santíssima Virgem para que através dela possamos mais perfeitamente pertencer a Deus.
A finalidade desta total entrega a Nossa Senhora é nos unir a Jesus Cristo e nos fazer crescer em sua graça. Nos entregamos totalmente a Nossa Senhora para que ela nos ensine a cumprir em nossa vida a Santíssima vontade de Deus. São Luís Maria de Montfort chama a Santa Escravidão de Amor de “A Verdadeira Devoção”, simplesmente porque ela nos mostra quem é Nossa Senhora, qual seu lugar no plano de salvação e sua missão na vida da Igreja e de cada um de nós.
A doutrina da Santa escravidão nos faz ver e compreender que Jesus nos deu Maria como verdadeira mãe, mestra e educadora, e ao mesmo tempo nos convida e nos faz lançar aos cuidados desta boníssima Senhora atendendo ao mandato de Jesus que olhando para nós nos diz: “Eis aí tua mãe”. Assim pela total consagração de nós mesmos à Santíssima Virgem estamos dizendo nosso sim a Jesus que no-la deu por mãe, a fim de que Ela nos ensine a fazer tudo que Ele mandou.
Do ponto de vista pastoral a necessidade e eficácia da total consagração a Nossa Senhora são sempre atuais, uma vez que esta consagração e devoção não são mais que a perfeita renovação das promessas do nosso santo batismo. De fato os concílios assim como muitos Papas falaram sobre a necessidade de se recordar os cristãos os votos de seu batismo e de seu estado de pertença a Deus, assim pela Total Consagração, nós agora por nós mesmos, renovamos nossas promessas batismais, recuperando a consciência de nosso estado de pertença a Deus. Tudo isso através de Maria, como quer Jesus, para que Ela nos ensine a sermos fiéis a nossa adesão a Cristo bem como da renúncia de todo mal.

2- O que acontece conosco, quando nos consagramos como Maria, Escravos por Amor?
Nós confirmamos a soberania de Deus e da Santíssima Virgem em nossas vidas, entregando TUDO que somos e temos a Jesus pelas mãos de Maria. Aqui, TUDO quer dizer TUDO. Nosso corpo com todos os nossos bens materiais e nossa alma com todas as nossas riquezas espirituais, nossos pensamentos, nossos desejos e quereres. Assim, mesmo os méritos de nossas orações, sacrifícios e boas obras passam a pertencer a Maria Santíssima para que Ela possa usá-los como lhe aprouver. Pela Santa Escravidão de Amor passamos a não possuir mais nada. Tudo passa ser de Maria, para que deste modo tudo possa ser de Deus.
Quando fazemos esta consagração e a vivemos obtemos um aumento admirável em nosso “Capital de Graças”, e por isso nos santificamos mais rapidamente e de maneira mais perfeita e segura. Com efeito, Maria Santíssima é um caminho fácil, curto, seguro e perfeito para nos unirmos a Jesus e crescermos em sua graça.
Santo Agostinho, diz que Maria é o molde de Cristo (forma DEI). Por sua vez, diz São Thomas de Aquino, que a nossa vida cristã consiste em refazer em nós a imagem e semelhança de Deus perdida pelo pecado, ou seja, devemos nos tornar semelhantes a Jesus em nossa maneira de ser, pensar e agir. Devemos imprimir em nossa alma a fisionomia de Nosso Senhor, para amar como
Jesus amou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu...etc. Para isto nada mais oportuno do que esta consagração, uma vez que Maria Santíssima é o grande molde no qual foi formado Jesus. Assim, todo aquele que se lançar e desmanchar dentro deste molde sairá com as feições de Jesus. A consagração é a maneira pela qual nos lançamos neste molde perfeito e a vivência dessa devoção é a maneira pela qual nos desmanchamos no mesmo molde, ou seja quando nos entregarmos totalmente a Maria, Ela nos ensinará a ser, pensar e viver como Jesus.

3- Quem pode fazer esta total consagração, e como fazê-la?
Todos os que querem viver o seu batismo podem e devem fazer esta consagração, ou seja, todos os que querem ser santos, que acreditam em Jesus Cristo e em toda sua doutrina, tal qual, nos transmite a Santa Igreja. Quem faz restrições a doutrina de Jesus Cristo ensinada pela Santa Igreja, ou quem não pode (ou não quer) viver em comunhão eucarística não pode fazer esta consagração.

4 – Como fazer esta consagração?
Para se fazer esta consagração é necessário primeiro conhecê-la; lendo e estudando o Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, escrito por São Luís de Montfort, e outros livros que falem sobre a Santa Escravidão, como “O Livro de Ouro ao Alcance de todos” ouvindo palestras e participando de encontros e retiros sobre o tema.
Assim, após se ter consciência do que é esta Consagração e de como deve vivê-la pode se marcar uma data e fazer os exercícios preparatórios que durarão um mês. Estes exercícios são meditações diárias que podem ser encontradas no livro “Consagração a Nossa Senhora” de Dom Antônio Maria Alves de Siqueira.

A seqüência de preparação é a seguinte:
I - Doze dias preliminares- Para desapego do espírito do mundo a aquisição do Espírito de Deus. Onde se medita nossa vocação à santidade, desprendendo-se de tudo que possa nos atrapalhar a sermos santos para irmos para o céu.
II - Primeira semana- Para o conhecimento de si mesmo. Trata-se de um período para fazermos um profundo exame de consciência a partir do que devemos nos aperfeiçoar, buscando em tudo sermos agradáveis a Deus.
III - Segunda semana- Para o conhecimento da Santíssima Virgem, de sua pessoa, sua missão, das graças das quais Ela é repleta, de suas sublimes virtudes, de seus privilégios, etc. De forma que conhecendo-a melhor, possamos amá-la mais e honrá-la como Ela merece ser honrada.
IV - Terceira semana- Para o conhecimento de Jesus Cristo nosso Fim Último, nosso Grande Deus e Senhor. Aqui devemos meditar no Mistério da vinda, da vida, paixão, morte e Glorificação de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Devemos contemplar a encantadora vida de Jesus, sua pessoa e sua doutrina, para que assim possamos crer nele com profunda convicção, amá-lo com amor abrasado, de forma, a despertar em nós um grande desejo de fazê-lo conhecido, amado e adorado, por todos.

Durante esta preparação de um mês (ou 33 dias), faz-se uma confissão geral e no dia escolhido (de preferência uma festa Mariana) participasse do Santo Sacrifício da Missa e se recebe Jesus no Santíssimo Sacramento. Depois da Ação de Graças (e como Ação de Graças) se recita a fórmula da Consagração que deve estar previamente copiada (de preferência de próprio punho) e se assina. Quando o sacerdote tem conhecimento da consagração e apóia, pode-se pedir que ele assine a folha como diretor espiritual e abençoe as correntes (se forem ser utilizadas).

5- Como deve viver um consagrado e quais suas obrigações?
Prática interior – O essencial desta devoção consiste em fazer todas as coisas por Maria, com Maria, em Maria e para Maria, para mais perfeitamente fazê-las por Jesus, com Jesus, em Jesus e para Jesus. Viver num estado de abandono e confiança para com Nossa Senhora, confiando a ela todas as nossas necessidades, problemas, sofrimentos, alegrias, decisões, negócios... etc. Como uma criança pequenina, segurar nas mãos desta boa mãe e deixar-se conduzir por ela. Em tudo recorrer a Ela. Fazer tudo do jeito dela. Louvar a Deus e adorá-lo com o coração dela.
Práticas exteriores – Também devemos cantar as glórias de Maria, honrá-la com todo amor, anunciando sua dignidade e seus privilégios, ensinando a todos e em todo lugar o que é a verdadeira devoção a Ela.
Devemos contemplar os mistérios do Santo Rosário, participar de suas festas, inscrever-se em suas confrarias, fazer e renovar sempre a Consagração a Ela e levar as pessoas a fazerem o mesmo. Usar as pequenas cadeias de ferro ou correntes como sinal de nosso amor e de nossa consagração, etc. É preciso entretanto observar que estas práticas não são essenciais, mas são utilíssimas para exteriorizar nosso amor a Jesus e Maria e edificar nosso próximo.

6- A difusão e a prática generalizada da Santa Escravidão de Amor levará ao Triunfo da Santíssima Virgem, e ao reinado de Jesus.
Por fim, é importante lembrar que a Santa Escravidão de Amor, no pensamento e na doutrina de São Luís de Montfort, não é “mais uma devoção”, e muito menos “uma devoção qualquer”, é sim, o meio que a providência divina escolheu para estabelecer no mundo o triunfo de Maria e em conseqüência o reinado de Jesus. Se, portanto queremos que venha logo o prometido Triunfo do Coração de Maria e o Império de Jesus sobre toda humanidade, procuremos todos fazer, viver e propagar a Santa Escravidão de Amor.
Autor: Pe. Rodrigo Maria
Extraído de http://arcademaria.blogspot.com/
Saiba mais: Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem (São Luis Maria Grignion Montfort)

MEDITAÇÕES PARA A 4ª PARTE DA CONSAGRAÇÃO TOTAL A MARIA

MEDITAÇÃO
27º DIA
    Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as nossas devoções; de outro modo, elas serão falsas e enganosas.
    Jesus Cristo é o alfa e o ômega , o princípio e o fim de todas as coisas. Nós só trabalhamos, como diz o apóstolo, para tornar todo homem perfeito em Jesus Cristo, pois é em Jesus Cristo que habita toda a plenitude da Divindade e todas as outras plenitudes de graças, de virtudes, de perfeições; porque nele somente fomos abençoados de toda a bênção espiritual; porque é nosso único mestre que deve ensinar-nos, nosso único Senhor de quem devemos depender, nosso único chefe ao qual devemos estar unidos, nosso único modelo, com o qual devemos conformar-nos, nosso único médico que nos há de curar, nosso único pastor que nos há de alimentar, nosso único caminho que devemos trilhar, nossa única verdade que devemos crer, nossa única vida que nos há de vivificar, e nosso tudo em todas as coisas, que deve bastar-nos.
    Abaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos. Deus não nos deu outro fundamento para nossa salvação, nossa perfeição e nossa glória, senão Jesus Cristo. Todo edifício cuja base não assentar sobre esta pedra firme, estará construído sobre areia movediça, e ruirá fatalmente, mais cedo ou mais tarde.
    Por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em Jesus Cristo, podemos tudo: render toda a honra e glória ao Pai, em unidade do Espírito Santo e tornar-nos perfeitos e ser para nosso próximo um bom odor de vida eterna.
    Se estabelecermos, portanto, a sólida devoção à Santíssima Virgem, teremos contribuído para estabelecer com mais perfeição a devoção a Jesus Cristo, teremos proporcionado um meio fácil e seguro de achar Jesus Cristo; como já fiz ver e farei ver, ainda, nas páginas seguintes, esta devoção só nos é necessária para encontrar Jesus Cristo, amá-lo ternamente e fielmente servi-lo. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 61)

28º DIA
    Quando Jesus acabou todos esses discursos, disse a seus discípulos: Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será traído para ser crucificado.
    Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados. Digo-vos: doravante não beberei mais desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no Reino de meu Pai.
    Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar. E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres. Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: Então não pudestes vigiar uma hora comigo... Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade! Voltou ainda e os encontrou novamente dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Voltou então para os seus discípulos e disse-lhes: Dormi agora e repousai! Chegou a hora: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores... Levantai-vos, vamos! Aquele que me trai está perto daqui. (Mt 26, 1-2; 26-29; 36-46)

29º DIA
Da imitação de Cristo e do desapego das vaidades do mundo
    "Quem me segue não anda em trevas" (Jo 8,12). São palavras de Cristo, com as quais nos admoesta que imitemos sua vida e costumes, se quisermos verdadeiramente ser esclarecidos e livres de toda a cegueira de coração.
    Seja, pois, nosso principal desempenho meditar a vida de Jesus Cristo.
    A sua doutrina excede a de todos os santos; e quem possuir o seu espírito, nela achará o maná escondido.
    Acontece, porém, que muitos, ainda que amiúde ouçam o Evangelho, sentem nele pouco gosto e tiram pouco proveito, porque não têm o espírito de Cristo.
    Quem quiser compreender com satisfação e proveito as palavras de Jesus Cristo, deve conformar sua vida com a dele.
    Que te aproveita discorrer com sabedoria sobre a Trindade, se não és humilde, e por isso lhe desagradas?
    A verdade é que não são palavras sábias que fazem o homem santo ou justo, mas sim é a vida virtuosa que o faz agradável a Deus.
    É preferível sentir a compunção do que saber defini-la.
    Ainda que soubesses de cor toda a Bíblia e os ditos de todos os filósofos, que te aproveitaria tudo isto sem o amor e a graça de Deus?
    Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, exceto amar a Deus e só a Ele servir (Ecl.1,2).
    A suma sabedoria é, pelo desprezo do mundo, caminhar para o reino dos céus. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo I, 1-3)

30º DIA
    Sentaram-se e montaram guarda. Por cima de sua cabeça penduraram um escrito trazendo o motivo de sua crucificação: Este é Jesus, o rei dos judeus. Ao mesmo tempo foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita e outro à sua esquerda.
    Os que passavam o injuriavam, sacudiam a cabeça e diziam: Tu, que destróis o templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!
    Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam dele: Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele! Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus! E os ladrões, crucificados com ele, também o ultrajavam. (Mt 27, 36-44)
    A muitos parecem duras estas palavras do Salvador: "Renuncia a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-me" (Lc 9,23). Porém, muito mais duras parecerão aquelas que Ele pronunciará no dia do juízo: "Apartai-vos de mim, malditos, ide para o fogo eterno! (Mt 25,41).
    Os que agora ouvem e seguem de boa vontade a palavra da cruz, não temerão então a sentença da eterna condenação.
    "Este sinal da cruz aparecerá no céu quando o Senhor vier a julgar" (Mt 24,30).
    Então todos os servos da cruz, que se conformaram na vida com Cristo crucificado, se achegarão a Cristo Juiz com grande confiança.
    Por que temes, pois, tomar a cruz, pela qual se vai ao céu?
    Na cruz estão a salvação e a vida, na cruz a proteção contra nossos inimigos.
    Da cruz manam as suavidades celestiais; na cruz estão a fortaleza da alma, a alegria do coração, o compêndio da virtude, a perfeição da santidade.
    Não há salvação da alma, nem esperança da vida eterna, senão na cruz.
    Toma, pois, a tua cruz, segue a Jesus e chegarás à vida eterna.
    Este Senhor foi adiante, levando às costas a sua cruz; e nela morreu por ti, para que tu leves também a tua, e nela desejes morrer.
    "Porque se morreres com Ele, também com Ele viverás" (Rm 6,8); e se fores seu companheiro nos trabalhos, o serás também na glória. (Imitação de Cristo, Livro II, Cap XII, 1-2)

31º DIA
Deus manifesta ao homem sua bondade e seu amor no sacramento da Eucaristia
    Senhor, confiado em vossa bondade e misericórdia infinita, venho a Vós como enfermo ao médico; como faminto sequioso, à fonte da vida; como pobre, ao rei do céu; como escravo ao Senhor soberano; como criatura ao meu Criador; como aflito, a meu piedoso consolador.
    Mas donde me vem, meu Deus, a graça de virdes a mim? Quem sou eu para que Vós mesmo vos deis a mim? Como se atreve o pecador a aparecer em vossa presença? Como Vos dignais de ouvir o pecador?
    Vós conheceis vosso servo e sabeis que não há em mim bem algum que mereça esta graça. Confesso, pois, minha vileza, reconheço vossa bondade, louvo vossa piedade e vos dou graças por vossa caridade infinita. (Imitação de Cristo, Livro IV, Cap II, 1-2)
    Os que tomarem esta santa escravidão terão uma devoção especial pelo mistério da Encarnação do Verbo, a 25 de março , que é o mistério adequado a esta devoção, pois que esta devoção foi inspirada pelo Espírito Santo: 1° para honrar e imitar a dependência em que Deus Filho quis estar de Maria, para glória de Deus seu Pai e para nossa salvação; dependência que transparece particularmente neste mistério em que Jesus Cristo se torna cativo e escravo no seio de Maria SS., aí dependendo dela em tudo; 2° para agradecer a Deus as graças incomparáveis que concedeu a Maria, principalmente por tê-la escolhido para sua Mãe digníssima, escolha feita neste mistério. São estes os dois fins principais da escravização a Jesus Cristo em Maria
    Visto estarmos num século orgulhoso, em que pululam os sábios enfatuados, os espíritos fortes e críticos, que sempre acham o que falar das mais sólidas e bem estabelecidas práticas de piedade, é preferível, para evitar-lhes ocasião de crítica desnecessária, dizer "escravidão de Jesus em Maria" e dizer-se "escravo de Jesus Cristo" do que escravo de Maria. Assim a denominação desta devoção será dada antes pela sua finalidade, Jesus Cristo, que pelo caminho e meio para atingir este fim, Maria Santíssima. Pode-se, entretanto, usar uma ou outra sem o menor escrúpulo, como eu faço.
    Como o principal mistério que se celebra e honra nesta devoção é a mistério da Encarnação, no qual só se pode contemplar Jesus em Maria, e encarnado em seu seio, é mais adequado dizer-se "a escravidão de Jesus em Maria", de Jesus residindo e reinando em Maria, conforme a bela oração de tantos homens célebres: "Ó Jesus vivendo em Maria, vinde e vivei em nós, em vosso espírito de santidade", etc.
    Os que adotarem esta escravidão terão grande devoção ao recitar a Ave-Maria, ou a Saudação Angélica, da qual bem poucos cristãos, mesmo esclarecidos, conhecem o valor, o mérito, a excelência e a necessidade. Foi preciso que a Santíssima Virgem aparecesse várias vezes a grandes santos muito doutos, para demonstrar-lhes o mérito desta pequena oração. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 243, 245, 246, 249)

32º DIA
Do amor de Jesus sobre todas as coisas
    Bem-aventurado o que conhece o que é amar a Jesus e desprezar-se a si mesmo por amor de Jesus!
    Nosso amor para com ele deve apartar-nos de qualquer outro amor, porque Jesus quer ser amado sobre todas as coisas.
    O amor da criatura é enganoso e mutável, o amor de Jesus é fiel e constante.
    O que se prende à critura cairá com ela; o que se abraça com Jesus estará firme para sempre.
    Ama e tem por amigo aquele que não te faltará quando todos te desampararem, nem te deixará perecer quando chegar o fim da vida.
    De todos hás de te separar um dia, queiras ou não queiras. (...)
    Teu amado é de tal condição que não quer admitir companhia no amor; ele só, quer possuir teu coração e nele reinar como soberano em seu trono.
    A experiência te mostrará que toda a afeição que não puseres em Jesus, mas nos homens, é perdida (Imitação de Cristo, Livro II, Capítulo VII, 1-2)
    Eis aqui algumas práticas interiores assaz santificantes para aqueles chamados pelo Espírito Santo a mais alta perfeição. Consiste, em quatro palavras, em fazer todas as suas ações por Maria, com Maria, em Maria e para Maria, a fim de fazê-las mais perfeitamente por Jesus, com Jesus, em Jesus e para Jesus.
    É preciso fazer todas as ações por Maria, quer dizer, em todas as coisas obedecer à Santíssima Virgem, e em tudo conduzir-se por seu espírito, que é o santo espírito de Deus. São filhos de Deus os que se conduzem pelo espírito de Deus (Rm 8, 14). E os que pautam sua conduta pelo espírito de Maria são filhos de Maria e, por conseguinte, filhos de Deus, como já demonstramos; entre tantos devotos da Santíssima Virgem, só os que se conduzem por seu espírito é que são devotos verdadeiros e fiéis. Disse que o espírito de Maria é o espírito de Deus, porque ela jamais se conduziu por seu próprio espírito, e sempre pelo espírito de Deus, e este de tal modo a dominou que acabou tornando-se seu próprio espírito.
    Quão feliz é uma alma quando, a exemplo do bom irmão jesuíta Rodríguez, falecido em odor de santidade, é toda possuída e governada pelo espírito de Maria, que é um espírito suave e forte, zeloso e prudente, humilde e corajoso, puro e fecundo!
    É mister fazer todas as ações com Maria, isto é, em todas as ações olhar Maria como um modelo acabado de todas as virtudes e perfeições, que o Espírito Santo formou numa pura criatura, e imitá-lo na medida de nossa capacidade. Cumpre, portanto, que, em cada ação, consideremos como Maria a fez ou faria se estivesse em nosso lugar. Devemos, por isso, examinar e meditar as grandes virtudes que ela praticou durante a vida, especialmente 1° sua fé viva, pela qual creu fiel e constantemente até ao pé da cruz, sobre o Calvário; 2° sua humildade profunda que a levou a esconder-se, a calar-se, a submeter-se a tudo e a colocar-se em último lugar. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 257, 258, 260)

33º DIA
Que o corpo de Jesus Cristo e a Sagrada Escritura são de grande necessidade à alma fiel
    Ó dulcíssimo Jesus, que delícias inundam a alma fiel admitida ao Vosso banquete, onde se lhe não apresenta outro alimento senão Vós mesmo, seu único amado, o mais caro objeto de seus desejos!
    Oh! quão suave seria para mim derramar em vossa presença copiosas lágrimas de amor e regar com elas vossos divinos pés como a Madalena? Mas onde se achará esta devoção tão viva, esta efusão tão copiosa de santas lágrimas?
    Na verdade, o meu coração deveria abrasar-se em lágrimas de gosto diante de Vós e dos vossos santos anjos; pois que em vosso sacramento, Vos tenho verdadeiramente presente, posto que oculto debaixo das espécies sacramentais.
    Meus olhos não poderiam suportar o resplendor da vossa luz divida e o mundo inteiro se esvaeceria em vossa presença se aparecêsseis com toda a majestade de vossa glória. É, pois, por uma graça que fazeis à minha fraqueza que vos escondeis nesse Sacramento. (Imitação de Cristo, Livro IV, Capítulo XI, 1-2)
    É preciso fazer todas as ações em Maria. A Santíssima Virgem é o verdadeiro paraíso terrestre do novo Adão, de que o antigo paraíso terrestre é apenas a figura. Há, portanto, neste paraíso terrestre, riquezas, belezas, raridades e doçuras inexplicáveis, que o novo Adão, Jesus Cristo, aí deixou. Neste paraíso ele pôs suas complacências durante novos meses, aí operou suas maravilhas e aí acumulou riquezas com a magnificência de um Deus.
    É neste paraíso terrestre que está em verdade a árvore da vida que produziu Jesus Cristo, o fruto de vida; a árvore da ciência do bem e do mal, que deu a luz ao mundo. Há, neste lugar divino, árvores plantadas pela mão de Deus e orvalhadas por sua unção divina, árvores que produziram e produzem, todos os dias, frutos maravilhosos dum sabor divino O Espírito Santo, pela boca dos Santos Padres, chama também a Santíssima Virgem a porta oriental, por onde o sumo sacerdote Jesus Cristo entra e vem ao mundo (cf. Ez 44, 2-3) ; por ela entrou da primeira vez, e por ela virá da segunda.
    É preciso fazer finalmente todas as ações para Maria. Não a tomamos, porém, como fim último de nossos serviços; que é somente Jesus Cristo, mas como fim próximo, intermédio misterioso, e o meio mais fácil de chegar a ele. É preciso que não fiquemos ociosos, e sim que, apoiados por sua proteção; empreendamos e realizemos grandes coisas para tão augusta Soberana. É preciso defender seus privilégios quando alguém lhos disputar; sustentar sua glória, quando alguém a atacar: atrair todo o mundo, se for possível, ao seu serviço e a esta verdadeira e sólida devoção; falar, clamar contra todos os que abusem de sua devoção para ultrajar seu Filho; e ao mesmo tempo estabelecer esta verdadeira devoção.
    E como recompensa destes pequenos serviços, não devemos pretender mais que a honra de pertencer a uma Princesa tão amável, e a felicidade de, por meio dela, ficarmos unidos a Jesus Cristo, seu Filho, com um liame indissolúvel no tempo e na eternidade. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 261, 262, 265)

MEDITAÇÕES PARA A 3ª PARTE DA CONSAGRAÇÃO TOTAL A MARIA

MEDITAÇÃO
20º DIA
    Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura.
    Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino. Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores.
    Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração.
    Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito.
    Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno. (Lucas 2, 16 – 21).
    Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa.
    Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem.
    Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos.
    Mas não o encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura dele.
    Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os.
    Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas.
    Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição.
    Respondeu-lhes ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?
    Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera.
    Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.
    E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens. (Lucas 2, 42 – 52).

21º DIA
A verdadeira devoção à Santíssima Virgem
    Para subir e unir-se a Jesus, é preciso se valer do mesmo meio que Ele usou para descer a nós, para fazer-se homem e para nos comunicar suas graças; e esse meio é "a verdadeira devoção à Santíssima Virgem".
    Há muitas devoções à Virgem Santíssima, e verdadeiras: pois não falo aqui das falsas.
    Consiste a primeira em cumprir com os deveres de cristão, evitando o pecado mortal, operando mais por amor do que por temor, rogando de tempo em tempo à Santíssima Virgem e honrando-a como Mãe de Deus, sem nenhuma outra devoção especial a Ela.
    A segunda tem para com a Virgem mais altos sentimentos de estima, amor, veneração e confiança; induz a entrar nas confrarias do Santo Rosário e do escapulário, a rezar "a coroa" ou o Santo Rosário: a honrar as imagens e altares de Maria, a publicar seus louvores, a alistar-se em suas congregações.
    E todas estas devoções são boas. Desde que nos abstenhamos de pecar, é boa, santa e louvável; mas não tanto como a que segue, para afastar as almas das criaturas e desprendê-las de si mesmas, a fim de uni-las a Jesus Cristo.
    A terceira maneira de devoção à Santíssima Virgem, conhecida e praticada por muito poucas pessoas, é, almas predestinadas, a que vou lhes revelar.
    Consiste em dar-se todo inteiro, como escravo, a Maria e a Jesus por Ela; e além disso, em fazer todas as coisas com Maria, em Maria, por Maria e para Maria.
    É preciso escolher um dia determinado para entregar-se, consagrar-se e sacrificar-se; e isto terá que ser voluntariamente e por amor, por inteiro e sem reserva alguma; corpo e alma: bens exteriores e riqueza, tais como casa, família, rendimentos, etc., e bens interiores da alma, a saber: seus méritos, graças, virtudes e satisfações.

22º DIA
Características da verdadeira devoção a Maria
    Interior: a verdadeira devoção à Santíssima Virgem é interior, isto é, parte do espírito e do coração. Vem da estima em que se tem a Santíssima Virgem, da alta idéia que se formou de suas grandezas, e do amor que se lhe consagra.
    Terna: é terna, quer dizer cheia de confiança na Santíssima Virgem, da confiança de um filho em sua mãe. Impele uma alma a recorrer a ela em todas as necessidades do corpo e do espírito, com extremos de simplicidade, de confiança e de ternura.
    Santa: a verdadeira devoção à Santíssima Virgem é santa: leva uma alma a evitar o pecado e a imitar as virtudes da Santíssima Virgem, principalmente sua humildade profunda, sua contínua oração, sua obediência cega, sua fé viva, sua mortificação universal, sua pureza divina, sua caridade ardente, sua paciência heróica, sua doçura angélica e sua sabedoria divina. Aí estão as dez virtudes principais da Santíssima Virgem.
    Constante: a verdadeira devoção à Santíssima Virgem é constante, firma uma alma no bem, e ajuda-a a perseverar em suas práticas de devoção. Torna-a corajosa para se opor ao mundo em suas modas e máximas, à carne, em seus aborrecimentos e paixões, e ao demônio, em suas tentações. Assim, uma pessoa verdadeiramente devota da Santíssima Virgem não é volúvel, nem se deixa dominar pela melancolia, pelos escrúpulos ou pelos receios.
    Desinteressada: a verdadeira devoção à Virgem Santíssima é desinteressada, leva a alma a buscar não a si mesma, mas somente a Deus em sua Mãe Santíssima. O verdadeiro devoto de Maria não serve a esta augusta Rainha por espírito de lucro e de interesse, nem para seu bem temporal ou eterno, corporal ou espiritual, mas unicamente porque ela merece ser servida, e Deus exclusivamente nela.
(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº.s 105 a 110)

23º DIA
Em quê consiste “a perfeita Consagração a Jesus por Maria”.
    A mais perfeita devoção é aquela pela qual nos conformamos, unimos e consagramos mais perfeitamente a Jesus Cristo, pois toda a nossa perfeição consiste em sermos conformados, unidos e consagrados a ele. Ora, pois que Maria é, de todas as criaturas, a mais conforme a Jesus Cristo, segue daí que, de todas as devoções, a que mais consagra e conforma uma alma a Nosso Senhor é a devoção à Santíssima Virgem, sua santa Mãe, e que, quanto mais uma alma se consagrar a Maria, mais consagrada estará a Jesus Cristo.
    Eis por que a perfeita consagração a Jesus Cristo nada mais é que uma perfeita e inteira consagração à Santíssima Virgem, e nisto consiste a devoção que eu ensino; ou, por outra, uma perfeita renovação dos votos e promessas do santo batismo.
    Esta devoção consiste, portanto, em entregar-se inteiramente à Santíssima Virgem, a fim de, por ela, pertencer inteiramente a Jesus Cristo. É preciso dar-lhe 1° nosso corpo com todos os seus membros e sentidos, 2° nossa alma com todas as suas potências, 3° nossos bens exteriores, que chamamos de fortuna, presentes e futuros, 4° nossos bens interiores e espirituais, que são nossos méritos, nossas virtudes e nossas boas obras passadas, presentes e futuras. Numa palavra, tudo que temos na ordem da natureza e na ordem da graça, e tudo que, no porvir, poderemos ter na ordem da natureza, da graça e da glória, e isto sem nenhuma reserva, sem a reserva sequer de um real, de um cabelo, da menor boa ação, para toda a eternidade, sem pretender nem esperar a mínima recompensa de sua oferenda e de seu serviço, a não ser a honra de pertencer a Jesus Cristo por ela e nela, mesmo que esta amável Senhora não fosse, como é sempre, a mais liberal e reconhecida das criaturas.
(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº.s 120 e 121)

24º DIA
    Esta devoção é um caminho fácil, curto, perfeito e seguro para chegar à união com Nosso Senhor, e nisto consiste a perfeição do cristão.
    É um caminho fácil; é um caminho que Jesus Cristo abriu quando veio a nós, e no qual não há obstáculo que nos impeça de chegar a ele. Pode-se, é verdade, chegar a ele por outros caminhos; mas encontram-se muito mais cruzes e mortes estranhas, e muito mais empecilhos, que dificilmente se vencem.
    É um caminho curto. Esta devoção à Santíssima Virgem é um caminho curto para encontrar Jesus Cristo, seja porque dele não nos extraviamos, seja porque, como acabo de dizer, nele marchamos com mais alegria e facilidade, e, conseqüentemente, com mais prontidão. Avançamos mais, em pouco tempo de submissão e dependência a Maria, do que em anos inteiros de vontade própria e contando apenas com o próprio esforço.
    É um caminho perfeito. Esta prática de devoção à Santíssima Virgem é um caminho perfeito para ir e unir-se a Jesus Cristo, pois Maria é a mais perfeita e a mais santa das criaturas, e Jesus Cristo, que veio perfeitamente a nós, não tomou outro caminho em sua grande e admirável viagem. O Altíssimo, o Incompreensível, o Inacessível, aquele que é, quis vir a nós, pequenos vermes da terra, que nada somos. Como se fez isto? O Altíssimo desceu perfeita e divinamente até nós por meio da humilde Maria, sem nada perder de sua divindade e santidade; e por Maria que os pequeninos devem subir perfeita e divinamente ao Altíssimo sem recear coisa alguma.
    É um caminho seguro. Esta devoção à Santíssima Virgem é um caminho seguro para irmos a Jesus Cristo e adquirirmos a perfeição, unindo-nos a ele: Porque esta prática, preconizada por mim, não é nova; é tão antiga, que não se pode (...) determinar-lhe com toda a precisão os começos. Nem seria possível condená-la sem derrubar os fundamentos do cristianismo. Fica, portanto, de pé que esta devoção não é nova, e que não é comum, por ser preciosa demais para ser apreciada e praticada por todo mundo.
    Esta devoção é um meio seguro para ir a Jesus Cristo, porque pertence à Santíssima Virgem e lhe é próprio conduzir-nos a Jesus Cristo, como compete a Jesus Cristo conduzir-nos ao Pai celestial.
(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº.s 152, 155, 157, 159, 163 e 164)

25º DIA
Efeitos maravilhosos desta devoção
    Convencei-vos de que, se vos tornardes fiel às práticas interiores e exteriores desta devoção, que vos indico em seguida:
    Primeiro efeito: Pela luz que o Espírito Santo vos dará por intermédio de Maria, sua querida esposa, conhecereis vosso fundo mau, vossa corrupção e vossa incapacidade para todo bem, e, em conseqüência deste conhecimento, vos desprezareis, e será com horror que pensareis em vós mesmo. A humilde. Maria vos da rá, enfim, parte de sua profunda humildade, com que vos desprezareis a vós mesmo, sem desprezar pessoa alguma, e gostareis até de ser desprezado.
    Segundo efeito: A Santíssima Virgem vos dará uma parte de sua fé, a maior que já houve na terra, maior que a de todos os patriarcas, profetas, apóstolos e todos os santos.
    Terceiro efeito: Esta Mãe do amor formoso (Ecli 24, 24) aliviará vosso coração de todo escrúpulo e de todo temor servil.
    Quarto efeito: A Santíssima Virgem vos encherá de grande confiança em Deus e nela, porque não vos aproximareis mais de Jesus Cristo por vós mesmo, mas sempre. por intermédio desta bondosa Mãe.
    Quinto efeito: A alma da Santíssima Virgem se comunicará a vós para glorificar o Senhor; seu espírito tomará o lugar do vosso para regozijar-se em Deus, contanto que pratiqueis fielmente esta devoção.
    Sexto efeito: Se Maria, que é a árvore da vida, for bem cultivada em nossa alma pela fidelidade às práticas desta devoção, ela dará fruto em seu tempo; e seu fruto não é outro senão Jesus Cristo.
    Sétimo efeito: Por esta prática, fielmente observada, dareis a Jesus Cristo mais glória em um mês, que por qualquer outra, embora mais difícil, em muitos anos.
(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº.s 213, 214, 215, 216, 217 e 222)

26º DIA
    Se quiserdes compreender a Mãe - diz um santo - compreendei o Filho. Ela é uma digna Mãe de Deus: Toda lingua aqui emudeça, para demonstrar que Maria Santíssima tem sido, até aqui, desconhecida, e que é esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser.
    Quando, portanto, e é certo, o conhecimento e o reino de Jesus Cristo tomarem o mundo, será como uma conseqüência necessária do conhecimento e do reino da Santíssima Virgem Maria. Ela o deu ao mundo a primeira vez, e também, da segunda, o fará resplandecer.
    Confesso com toda a Igreja que Maria é uma pura criatura saída das mãos do Altíssimo. Comparada, portanto, à Majestade infinita ela é menos que um átomo, é, antes, um nada, pois que só ele é "Aquele que é" (Ex 3, 14) e, por conseguinte, este grande Senhor, sempre independente e bastando-se a si mesmo, não tem nem teve jamais necessidade da Santíssima Virgem para a realização de suas vontades e a manifestação de sua glória. Basta-lhe querer para tudo fazer.
    Digo, entretanto, que, supostas as coisas como são, já que Deus quis começar e acabar suas maiores obras por meio da Santíssima Virgem, depois que a formou, é de crer que não mudará de conduta nos séculos dos séculos, pois é Deus, imutável em sua conduta e em seus sentimentos.
    Maria é a Rainha do céu e da terra, pela graça, como Jesus é o Rei por natureza e conquista. Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração ou o interior do homem, conforme a palavra: "O reino de Deus está no meio de vós" (Lc 17, 21), o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem, i. é, em sua alma, e é principalmente nas almas que ela é mais glorificada com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la com os santos a Rainha dos corações.
(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº.s 12 a 15; 38)

MEDITAÇÕES PARA A 2ª PARTE DA CONSAGRAÇÃO TOTAL A MARIA

MEDITAÇÃO
13º DIA
    Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos.
    Disse-lhes ele, então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação.
    Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer; e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te dar os pães; eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães necessitar.
    E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá. (Lucas 11, 1 – 10).

14º DIA
Da obediência do súdito humilde conforme o exemplo de Jesus Cristo.
    Filho, quem procura apartar-se da obediência, aparta-se também da graça; e quem procura o seu bem particular, priva-se dos bens comuns gerais.
    Quando alguém não se sujeita de bom grado a seu superior, sinal é que sua carne ainda não obedece perfeitamente, mas que se rebela ainda muitas vezes contra o espírito.
    Aprende, pois, a submeter-se prontamente a teu superior, se desejas ter a tua carne sujeita.
    Porque o inimigo de fora é bem depressa vencido, quando o homem não tem a guerra dentro de si mesmo.
    Não há inimigo pior nem mais perigoso para tua alma que tu mesmo.
    É necessário que te desprezes a ti mesmo, se queres vencer a carne e o sangue.
    Mas porque ainda te amas desordenadamente, por isso receias sujeitar-te de todo à vontade dos outros.
    Ora, que haverá de especial em que tu, pó e cinza, te submetas ao homem por amor de Deus, quando eu, Onipotente e Altíssimo que tudo criei do nada, me sujeitei humildemente ao homem por teu amor?
    Fiz-me o mais humilde e abatido de todos, para que minha humildade te ensinasse a vencer a tua soberba.
    Aprende a obedecer, pó soberbo; aprende, barro e lodo, a humilhar-te e a meter-te debaixo dos pés de todos.
    Aprende a quebrantar tua vontade e a fazer-te vítima da obediência. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XIII, 1-2)

15º DIA
    Neste mesmo tempo contavam alguns o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios.
    Jesus toma a palavra e lhes pergunta: Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por terem sido tratados desse modo? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo. Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo. (Lc 13,1-5)
Precisamos de Maria para morrermos para nós mesmos
    Para despojar-nos de nós mesmos, é preciso que todos os dias morramos para nós, i. é, importa renunciarmos às operações das faculdades da alma e dos sentidos do corpo, precisamos ver como se não víssemos, ouvir como se não ouvíssemos, servir-nos das coisas deste mundo como se não o fizéssemos (cf. 1 Cor 7, 29-31), o que São Paulo chama morrer todos os dias: "Quotidie morior" (1 Cor 15, 31).
    "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só, e não produz fruto apreciável" (Jo 12, 24-25). Se não morrermos a nós mesmos, e se as mais santas devoções não nos levarem a esta morte necessária e fecunda, não produziremos fruto que valha, nossas devoções serão inúteis, todas as nossas obras de justiça ficarão manchadas por nosso amor-próprio e nossa própria vontade, e Deus abominará os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer. Na hora da nossa morte, teremos as mãos vazias de virtudes e de méritos, e não brilhará em nós a menor centelha do puro amor, que só é comunicado às almas mortas a si mesmas, almas cuja vida está oculta com Jesus Cristo em Deus (Col 3, 3). (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 81)
    É preciso escolher, entre todas as devoções à Santíssima Virgem, a que nos leva com mais certeza a este aniquilamento do próprio eu. Esta será a devoção melhor e mais santificante, pois é mister reconhecer que nem tudo que luz é ouro, nem tudo que é doce é mel, e nem tudo que é fácil de fazer e praticar é o mais santificante. Do mesmo modo que a natureza tem segredos para fazer em pouco tempo, sem muitos gastos e com facilidade, certas operações naturais, há segredos, na ordem da graça, pelos quais se fazem, em pouco tempo, com doçura e facilidade, operações sobrenaturais, como despojar-nos de nós mesmos, encher-nos de Deus, e tornar-nos perfeitos. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 82)

16º DIA
    Recordar que durante a primeira semana aplicarão todas as suas orações e atos de piedade para pedir o conhecimento de si mesmo e a contrição por seus pecados. Tudo farão em espírito de humildade.
    Para isso poderão, se quiserem, meditar sobre o que ficou dito sobre o nosso fundo de maldade , e considerar-se, nos seis dias desta semana, como uma lesma, um sapo, um porco, uma serpente, um bode; ou, então, estas três palavras de São Bernardo: “Pensa no que foste: um pouco de lodo; no que és: vaso de escórias; no que serás: pasto de vermes”.
    Pedirão a Nosso Senhor e a seu Espírito Santo que os esclareça, dizendo “Senhor, fazei que eu veja” (Lc 18,41); ou “Que eu me conheça” (Santo Agostinho); ou “Vinde, Espírito Santo”...
    Recorrerão à Santíssima Virgem e lhe pedirão esta grande graça que deve ser o fundamento das outras, e para isso recitarão todos os dias o “Ave, Maris Stella” e as ladainhas.” (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 228)
Da consideração de si mesmo
    Não devemos confiar demasiado em nós mesmos, porque muitas vezes nos faltam a graça e o discernimento.
    Pouca luz há em nós, e esse pouco perdemo-lo depressa, por nossos descuido.
    Muitas vezes também agimos mal, e ainda pior nos desculpamos.
    Às vezes somos levados pela paixão, e julgamos que é o zelo.
    Repreendemos nos outros as faltas pequenas e desculpamos as nossas, mesmo as mais graves.
    Mui depressa sentimos e nos magoamos como que sofremos dos utros; mas não pensamos muito no quanto os outros sofrem por causa de nós.
    O que bem e retamente examinar suas ações, não terá que julgar severamente as alheias. (Imitação de Cristo, Livro II, capítulo V, 1)

17º DIA
Do juízo e penas dos pecadores
    Em todas as coisas olha o fim, e como se encontrarás diante daquele retíssimo juiz para quem nada há oculto, que não se abranda com mpresentes, nem admite desculpas, mas julgará segundo a justiça. Ó néscio e miserável pecador! Que responderás a Deus que sabe todas as tuas maldades, tu que às vezes temes o rosto de um homem irado?
    Por que não te acautelas para o dia do Juízo, quando ninguém pdoerá ser desculpado nem defendido por outrem, mas cada um terá bastante que fazer por si? (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XXIV, 1)
    Jesus disse também a seus discípulos: Havia um homem rico que tinha um administrador. Este lhe foi denunciado de ter dissipado os seus bens.
    Ele chamou o administrador e lhe disse: Que é que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já não poderás administrar meus bens.
    O administrador refletiu então consigo: Que farei, visto que meu patrão me tira o emprego? Lavrar a terra? Não o posso. Mendigar? Tenho vergonha. Já sei o que fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando eu for despedido do emprego.
    Chamou, pois, separadamente a cada um dos devedores de seu patrão e perguntou ao primeiro: Quanto deves a meu patrão?
    Ele respondeu: Cem medidas de azeite. Disse-lhe: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve: cinqüenta.
    Depois perguntou ao outro: Tu, quanto deves? Respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o administrador: Toma os teus papéis e escreve: oitenta.
    E o proprietário admirou a astúcia do administrador, porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz no trato com seus semelhantes. (Lucas 16, 1 – 8).

18º DIA
    Jesus disse também a seus discípulos: É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! Melhor lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos. Tomai cuidado de vós mesmos. Se teu irmão pecar, repreende-o; se se arrepender, perdoa-lhe. Se pecar sete vezes no dia contra ti e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: Estou arrependido, perdoar-lhe-ás.
    Os apóstolos disseram ao Senhor: Aumenta-nos a fé!
    Disse o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá. Qual de vós, tendo um servo ocupado em lavrar ou em guardar o gado, quando voltar do campo lhe dirá: Vem depressa sentar-te à mesa? E não lhe dirá ao contrário: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disto comerás e beberás tu? E se o servo tiver feito tudo o que lhe ordenara, porventura fica-lhe o senhor devendo alguma obrigação? Assim também vós, depois de terdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos como quaisquer outros; fizemos o que devíamos fazer. (Lucas 17, 1 – 10).
Devem sofrer-se todos os males temporais, na esperança dos bens eternos
    Filho, não esmoreças nos trabalhos que por mim empreendeste, nem te desanimes com as tribulações, mas em tudo que te acontecer, minhas promesses te consolem e fortifiquem.
    Eu sou assaz poderoso para dar-te uma recompensa sem limites e sem medida. Os trabalhos que agora padeces não serão dilatados, nem sempre viverás oprimido de dores.
    Espera um pouco e verás quão depressa passam os males. Virá uma hora em que cessará todo o trabalho e inquietação. Sempre é breve tudo o que passa com o tempo. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XLVII, 1)

19º DIA
    Trouxeram-lhe também criancinhas, para que ele as tocasse. Vendo isto, os discípulos as repreendiam.
    Jesus, porém, chamou-as e disse: Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas. Em verdade vos declaro: quem não receber o Reino de Deus como uma criancinha, nele não entrará.
    Um homem de posição perguntou então a Jesus: Bom Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?
    Jesus respondeu-lhe: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus. Conheces os mandamentos: não cometerás adultério; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; honrarás pai e mãe.
    Disse ele: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade.
    A estas palavras, Jesus lhe falou: Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me.
    Ouvindo isto, ele se entristeceu, pois era muito rico.
    Vendo-o entristecer-se, disse Jesus: Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar o camelo pelo fundo duma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.
    Perguntaram os ouvintes: Quem então poderá salvar-se?
    Respondeu Jesus: O que é impossível aos homens é possível a Deus.
    Pedro então disse: Vê, nós abandonamos tudo e te seguimos.
    Jesus respondeu: Em verdade vos declaro: ninguém há que tenha abandonado, por amor do Reino de Deus, sua casa, sua mulher, seus irmãos, seus pais ou seus filhos, que não receba muito mais neste mundo e no mundo vindouro a vida eterna. (Lc 18, 15 – 30)

MEDITAÇÃO 12 PRIMEIROS DIAS DA CONSAGRAÇÃO TOTAL A MARIA

Meditações para os 12 dias preliminares PDF Imprimir E-mail
Por ANE Brasil   
MEDITAÇÃO


1º DIA

     Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele.
     Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
     Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!
     Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
     Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
     Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
     Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
     Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
     Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
     Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!
    Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.
    Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
    Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.
    Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa.
    Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
    Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.
    Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei.
   Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus. (Mt 5,1-19)

2º DIA
    Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.
    Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.
    Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
    Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.
    Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
    Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
    Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.
    Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.
    Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.
    Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
    O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
    Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará.
    Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará. (Mt 5,48;6,1-15)

3º DIA
    Não julgueis, e não sereis julgados.
    Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos.
    Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu?
    Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu?
    Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.
    Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e, voltando-se contra vós, vos despedacem.
    Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.
    Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á.
    Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão?
    E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente?
    Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem.
    Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas.
    Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.
    Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram. (Mt 7,1-14)

4º DIA
Que o homem de si nada tem de bom, nem coisa alguma de que gloriar-se
    Senhor, que é o homem, para que Vos lembreis dele? E que é o filho do homem, para que o visiteis? (Sl 8,5)
    Que merecimento tinha o homem para que lhe désses vossa graça?
    De que poderei queixar-me, Senhor, se me desamparardes? Ou que terei justamente que dizer se nao fizerdes o que eu peço?
    Por certo que não posso pensar, nem dizer com verdade, senão isto: "Nada sou, Senhor, nada posso, nada de bom tenho de mim, de tudo que é bom acho-me vazio" e caminho sempre para o nada.
    E se não for ajudado e fortalecido interiormente por Vós, para logo cairei na tibieza e dissipação.
    "Vós porém, Senhor, sempre sois o mesmo e permaneceis eternamente bom, justo e santo, agindo sempre com bondade, com justiça e santidade, e ordenando tudo com sabedoria" (Sl 101,27).
    Mas eu, que mais pendo para o mal que para o bem, não persevero muito tempo no mesmo estado e mudo muitas vezes no dia.
    Contudo, logo me acho menos fraco quando vos dignais estender-me vossa mão auxiliadora; porque Vós só, sem humano favor, me podeis socorrer e fortificar, de tal sorte que não esteja jamais sujeito a todas essas mudanças, e meu coração só para Vós se converta, e em Vós só descanse para sempre. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XL, 1-2)
    Quem se considera mui seguro em tempo de paz se achará tímido e covarde em tempo de guerra.
    Se souberas viver sempre humilde e pequeno no teu conceito, contendo-te nos limites duma justa moderação, não cairias tão depressa na tentação e no pecado.
    Quando te achares penetrado dum grande fervor de espírito, é bem que medites noque será de ti, retirando-se esta graça. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo VII, 4)

5º DIA
    Se eu bem soubesse desprezar todas as consolações humanas, já para adquirir o santo fervor, já pela infeliz necessidade que me obriga a buscar em Vós a verdadeira consolação que nenhum homem pode dar-me, então teria eu grande motivo para esperar com razão vossa graça e para alegrar-me com o dom duma nova consolação.
    Graças Vos dou, Senhor, por serdes a fonte de que dimana todo o bem que me sucede.
    Eu, homem inconstante e frágil, não sou na vossa presença mais que um nada e uma pura vaidade. De que posso eu pois gloriar-me, ou com que motivo desejo ser estimado?
    Acaso por ser um nada? Porém que coisa mais insensata e vaidosa!
    A vã glória é, na verdade, uma peste detestável e um mal terrível, porque nos aparta da verdadeira glória e nos despoja da graça celestial.
    Desde que o homem se compraz em si mesmo, começa a desagradar-Vos; e logo que aspira aos louvores humanos, perde a verdadeira virtude.
    A verdadeira glória e a santa alegria consistem em gloriar-se cada um em Vós e não em si; em alegrar-se de vossa grandeza e não de sua própria virtude; em não achar prazer em criatura alguma senão por amor de Vós.
    Seja louvado vosso nome e não o meu; engrandecidas sejam vossas obras e não as minhas. Louvem e abençoem todos os homens a vossa grandeza e nada participe eu de seus louvores.
    Vós sois minha glória, Vós sois a alegria de meu coração. Todo o dia me gloriarei e alegrarei em vós; pois em minha nada tenho em que gloriar-me, "senão em minhas fraquezas" (2 Cor 12,5) (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XL, 3-5)

6º DIA
Do exemplo dos Santos Padres.
    Considera bem os heróicos exemplos dos Santos Padres, nos quais resplandece a verdadeira perfeição da vida religiosa, e verás quão pouco ou nada é o que fazemos.
    Ai de nós! Que é a nossa vida, comparada com a deles?
    Os santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor em fome, em sede, em frio e nudez, em trabalhos, em fadigas, em vigílias e jejuns, em rezas e santas meditações, em perseguições e muitos opróbrios.
    Oh! quantas e quão graves tribulações padeceram os apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens, e todos os demais que quiseram seguir as pisadas de Cristo! "Pois aborreceram neste mundo suas vidas para as possuírem na eternidade" (Jo 12,25).
    Que vida de renúncia e austeridade foi a dos Santos Padres no deserto! Que longas e graves tentações padeceram! Quantas vezes foram atormentados pelo inimigo! Quão fervorosas e contínuas orações ofereceram a Deus! Quão rigorosas abstinências praticaram! Que zelo, que ardor em seu aproveitamento espiritual! Que forte guerra contra suas paixões! Que intenção pura e reta sempre dirigida para Deus!
    De dia trabalhavam e passavam as noites em larga oração; ainda que trabalhando, não interrompiam a sua oração mental.
    Todo o tempo gastavam santamente: as horas lhes pareciam curtas para se darem a Deus; e pela grande doçura da contemplação se esqueciam da necessária refeição do corpo.
    Renunciavam todas as riquezas, honras, dignidades, parentes e amigos: nada queriam do mundo; apenas tomavam o necessário para a vida, e lhes era pesado servir ao corpo ainda nas coisas necessárias.
    De modo que eram pobres das coisas da terram porém riquíssimos de graça e virtudes. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XVIII, 1-3)

7º DIA
    No exterior tudo lhes faltava; mas interiormente Deus os fortificava com sua graça e recreava com suas consolações.
    Eram estranhos ao mundo; mas íntimos e particulares amigos de Deus.
    Tinham-se por nada a si mesmos, e o mundo os tratava com desprezo, mas aos ohos de Deus eram preciosos e amados.
    Estavam em verdadeira humildade, viviam em singela obediência; por isso cada dia cresciam em espírito e alcançavam muita graça diante de Deus.
    Foram dados por exemplo a todos os religiosos; e mais nos devem mover para aproveitarmos no bem, que a multidão dos tíbios para afrouxarmos em nossos exercícios.
    Oh! Quão grande foi o fervor de todos os religiosso no princípio dos seus sagrados institutos!
    Quanto ardor na oração! Quanto zelo na virtude! Que severidade de disciplina! Como florescia a submissão e obediência à regra do santo fundador!
    O que ainda nos resta deles nos atesta a santidade e perfeição daqueles homens insignes que, pelejando esforçadamente, pisaram aos pés o mundo. Agora já se estima em muito aquele que não transgride a regra, e se com paciência pode sofrer algum dissabor.
    Oh! tibieza e negligência de nosso estado, que tão depressa declinamos do fervor primitivo, e já nos é molesto o viver em conseqüência da frouxidão e tibieza!
    Praza a Deus que, tendo visto tantos exemplos de santos homens, de todo se não acabe em ti o desejo de aprovitar nas virtudes! (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XVIII, 3-6)

8º DIA
A resistência às tentações.
    Enquanto vivemos no mundo, não podemos estar sem trabalhos e tentações.
    Por isso está escrito no livro de Jó: "A vida do homem sobre a terra é uma contínua tentação" (7,1).
    Cada qual, pois, deve ser muito cuidadoso nas tentações, procurando, vigilante na oração, não dar lugar às ilusões do demônio, "que nunca dorme, nem cessa de andar à roda das almas para as devorar" (1Pd 5,8).
    Ninguém há tão santo e tão perfeito,que não tenha algumas vezes tentações, e não podemos viver sem elas.
    Se bem que inoportunas e penosas,as tentações são muitas vezes utilíssimas ao homem, porque através delas se humilha, se instrui e se purifica.
    Todos os santos passaram por muitas tentações e trabalhos e foi assim que progrediram na santidade.
    E os que não quiseram suportá-los, falharam e condenaram-se.
    Não há ordem tão santa nem lugar tão retirado onde não haja tentações e adversidades.
    Nenhum homem está inteiramente livre de tentações enquanto vive; porque em nós mesmos está a causa donde elas vêm, pois nascemos com inclinação ao pecado.
    Passada uma tentação ou tribulação, sobrevém outra, e sempre teremos que sofrer, porque se perdeu o bem de nossa primeira felicidade.
    Muitos querem fugir às tentações e caem nelas mais gravemente.
    Mas, não é fugindo que podemos vencê-las, porém é com paciência e verdadeira humildade que nos fazemos mais fortes que todos os nossos inimigos.
    Quem somente evita as ocasiões exteriores e não arranca o mal pela raiz, pouco aproveitará; antes lhe tornarão mais depressa as tentações e se achará pior que dantes.
    Com a ajuda de Deus, mais facilmente vencerás, compaciência e perseverança, do que com teu próprio esforço e fadiga.
    Toma muitas vezes conselho na tentação, e não sejas desabrido e áspero como que está tentado, antes procura consolá-lo como quiseras ser consolado.
    O princípio de toda a tentação é a inconstância de ânimo e a pouca confiança em Deus.
    Como um navio sem leme é levado pelas ondas em todas as direções, assim o homem negligente e inconstante em seus propósitos é tentado de todas as maneiras. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XIII, 1-5)

9º DIA
    O fogo prova o ferro, e a tentação o justo.
    Muitas vezes não sabemos o que podemos; mas a tentação mostra-nos o que somos.
    Devemos, pois, vigiar principalmente no princípio da tentação, porque mais facilmente se vence o inimigo quando não o deixamos passar da porta da alma, e lhe saímos ao encontro, logo que bate.
    Donde veio dizer um poeta:
Resiste no princípio,
Tarde chega o remédio
Se já, por largo tempo,
O mal lançou raízes.
    Porque, primeiramente, se oferece à alma um simples pensamento, podeis, a importuna imaginação, logo o prazer, o movimento desordenado e o consentimento da vontade.
    E assim pouco a pouco entra o inimigo e se apodera de tudo, porque se lhe não resistiu no princípio.
    E quanto mais preguiçoso for o homem em resistir-lhe, tanto se fará cada dia mais fraco, e o inimigo contra ele mais poderoso.
    Alguns padecem graves tentações no princípio de sua conversão, outros, no fim, muitos por toda a vida.
    Alguns são tentados brandamente, segundo a sabedoria e a eqüidade da Divina Providência, que pondera o estado e os méritos dos homens, e tudo ordena para a salvação de seus escolhidos.
    Por isso, não devemos desconfiar quando formos tentados; mas antes rogar a Deus com maior fervor para que se digne ajudar-nos em toda a atribuição; porque, segundo o dito de São Paulo, "nos dará o auxílio junto com a tentação para que lhe possamos resistir" (1Cor 10,13).
    "Humilhemos, pois, nossas almas, debaixo da mão de Deus em toda tribulação e tentação, porque ele há de salvar e engrandecer os humildes de espírito" (Sl 33,19).
    É nas tentações e nos reveses que o homem verifica quanto progrediu; por elas maior se torna o mérito, e melhor se revelam as virtudes. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XIII, 5-7)

10º DIA
Desprezando-se o mundo, é suave servir a Deus.
    Outra vez falarei agora, Senhor, e não me calarei. Direi a meu Deus, meu Senhor e meu Rei, assentado no trono dos céus:
    "Ó Senhor, quão grande é a abundância de vossa doçura que reservais para os que Vos temem. O que não será pois para os que Vos amam, e Vos servem de todo o coração?" (Sl 30,20).
    Na verdade, são inefáveis as delícias de que inundais os que Vos amam, quando sua alma Vos contempla.
    Eis que me mostrastes singularmente a ternura de vosso amor; quando não existia me cirastes, quando andava errante me chamastes a Vós para que Vos servisse e me pusestes o doce preceito de Vos amar.
    Ó fonte de amor perene! Que direi de Vós? Poderei eu esquecer-me de Vòs, que Vos dignastes lembrar-vos de mim, quando eu jazia no abismo da corrupção e da morte?
    Usastes de misericórdia com vosso servo sobre toda esperança; e além de todo merecimento me concedestes vossa graça e amizade.
    Com que Vos agradecerei, Senhor, um tão singular favor? Porque nem a todos é permitido deixar tudo, renunciar o mundo para abraçar a vida religiosa.
    Porventura é grande coisa que eu Vos sirva, quando toda criatura está obrigada a servir-vos?
    Conheço que não faço coisa grande em vos servir; mas o que me enche da mais profunda admiração, e que meu conceito parece grande é que vos digneis receber-me ao vosso serviço e unir-me com vossos amados servos, sendo eu tão pobre e tão indigno desta honra.
    Vossas são, pois, todas as coisas que tenho, e ainda o serviço que Vos faço é um dom que me concedeis.
    Eu devia fazer tudo por vosso amor, e sucede que mais servis Vós a mim do que eu a Vós.
    Criastes para o serviço do homem o céu e a terr, que estão sempre em vossa presença e fazem cada dia o que lhes mandaiz; e isto ainda é pouco, pois até haveis destinado os anjos para o servirem.
    Mas não pára aqui vossa bondade infinita, pois Vos dignastes servir ao homem e lhe prometestes que Vos daríeis a ele com toda a vossa glória.
    Que vos darei, meu Deus, por tantos milhares de benefícios? Oh! se eu udesse servir´vos todos os dias de minha vida! Se pudesse ao menos servir-vos dignamente um só dia!
    Em verdade só Vós sois digno de ser por todos servido, honrado e louvado eternamente.
    Vós sois, na realidade, meu senhor e eu vosso pobre escravo, obrigado a servir-vos comtodas as minhas forças, sem jamais me cansar de publicar vossos louvores.
    Assim o quero, assim o desejo: dignai-Vos de suprir por vossa graça o que me falta para cumprir este meu desejo.
    Que honra, Senhor, que glória não é servir-Vos e desprezar tudo por amor de Vós!
    Inúmeras graças receberão aqueles que voluntariamente se sujeitarem a Vós.
    Acharão a suavíssima consolação do Espírito Santo os que, por vosso amor, desprezarem todos os atrativos da carne. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo X, 1-50)

11º DIA
Da fervorosa emenda de toda a nossa vida
    Um homem que flutuava muitas vezes, cheio de ansiedade, entre o temor e a segurança, estando um di oprimido de tristeza, entrou numa igreja e, prostrando-se diante dum altar para fazser sua oração, dizia e repetia considgo mesmo: Oh! se eu soubesse que havia de perseverar! E logo ouviu no íntimo d'alma esta divina resposta: Que farias se isso soubesses? Faze agora o que desejarias fazer e estarás seguro.
    E no mesmo instante, consolado e fortalecido, se ofereceu à divina vontade, e cessou sua ansiosa turbação.
    Nem quis curiosamente esquadrinhar o que lhe havia de suceder; aplicou-se unicamente a conhecer a vontade de Deus, e o que a seus divino olhos fosse mais agradável e perfeito para começar a perfazer toda a boa obra.
    "Espera no Senhor, diz o Profeta, faze boas obras, habitarás em paz a terra, e serás alimentado com as suas riquezas" (Sl 36,3).
    Uma coisa resfria em algunso ardor de aproveitar e de se emendar: o receio das dificuldades ou o trabalho da peleja.
    Certamente aproveitam mais nas virtudes aqueles que com maior empenho trabalhampor vencer-se a si mesmos naquilo que lhes é mais penoso e contraria mais as suas inclinações.
    Porque o homem tanto mais aproveita e tanto maior graça alcança, quanto mais se vence a si mesmo e se mortifica no espírito.
    Porém, nem todos têm igual ânimo para vencer-se e mortificar-se.
    Mas o diligente e zeloso imitador de Cristo mais forte será para o seu aproveitamente, ainda que seja combatido de muitas paixões, do que o que tem dom natral, se é menos fervoroso em adquirir as virtudes. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XXV, 2-4)

12º DIA
    Mas se vires alguma coisa digna de repreensão, guarda-te de fazê-la; e, se em igual falta caíste, procura emendar-te logo dela.
    Assim como tu observas os outros, assim também eles te observam.
    Oh! que alegre e doce coisa é ver os devotos e fervorosos irmãos com santos costumes e bem disciplinados.
    Pelo contrário, que triste e penoso é vê-los andar desordenados, e sem se ocuparem nos compromissos de sua vocação!
    Oh! quão nocivo é ser descuidado no propósito de sua vocação, e cuidadoso no que Deus não ordena!
    Lembra-te do propósito que tomaste e propõe-te por modelo a Cristo Crucificado.
    Com razão te podes envergonhar, considerando a vida de Jesus Cristo, de não ter feito até aqui bastante esforço para te conformares com ela, estando há tanto tempo no caminho de Deus.
    O religioso que, devota e cuidadosamente, se exercita a meditar na santíssima vida e dolorosa paixão do Senhor, acha nela com abundância tudo que é útil e necessário para sua santificação: e não precisa buscar coisa nenhuma melhor for a Jesus Cristo.
    Oh! se Jesus Crucificado viesse a nosso coração, quão depressa e completamente seríamos ensinados!
    O homem fervoroso e diligente está preparado para tudo.
    Maior trabalho é resistir aos vícios e paixões, que suar nos trabalhos corporais.
    "Quem não evita as faltas pequenas, pouco a pouco cai nas grandes" (Ecl 29,1).
    Alegrar-te-ás sempre à noite, se empregares com fruto teu dia.
    Vigia sobre ti; exorta-te, admoesta-te; e aconteça o que acontecer aos outros, não te descuides de ti mesmo.
    Tanto aproveitarás, quanto for a violência que fizeres a ti mesmo... (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XXV, 5-6.11) 

da Liturgia das Horas


Deus se levanta no conselho dos juízes e profere entre os deuses a sentença:
– 'Até quando julgareis injustamente, favorecendo sempre a causa dos perversos?

– Fazei justiça aos indefesos e aos órfãos, ao pobre e ao humilde absolvei!
– Libertai o oprimido, o infeliz, da mão dos opressores arrancai-os!'


Mas eles não percebem nem entendem, pois caminham numa grande escuridão, abalando os fundamentos do universo!
– Eu disse: 'Ó juízes, vós sois deuses, sois filhos todos vós do Deus Altíssimo!' (Sl 81)